segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O MUNDO GLOBAL VISTO DO LADO DE CÁ

O Mundo Global visto do lado de cá
Reflexão acerca do documentário de Milton Santos:
O Mundo Global visto do lado de cá

Quando assistimos a um documentário, já pelo caráter do próprio estilo informativo, nos pomos a pensar de forma mais crítica sobre o tema abordado. No caso do documentário supramencionado não é diferente, me pus atenta a cada detalhe e confesso que me surpreendi com os inúmeros malefícios que o sistema “globalitário” nos impinge sem que possamos perceber. É claro que como contemporânea deste universo globalizado já havia me dado conta de alguns desses malefícios, no entanto, somente agora, percebi que as informações a respeito do fenômeno, em sua maioria, focavam seus pontos positivos. Em virtude dessas considerações, inspirada pelo documentário, faço a seguir uma reflexão a respeito da solidão, do tempo e do consumo em tempos de Globalização, acentuando aspectos de minha própria vida.

Na década de 80, me lembro bem, eu, meus pais e meus dois irmãos, nos reuníamos todos os dias no início da noite, terminadas as atividades de cada um dos 5 membros da família, na sala de estar para conversarmos sobre o dia-a-dia de cada um. Compartíamos diálogos intermináveis naquelas noites, algo que parecia nunca poder ser tirado de nós. O tempo passou. Já adultos, casamos, mudamos, mas nunca perdemos aquela amizade, cultivamos nossos diálogos ano após ano dentro do que permitia a distância física que nos separava. Quis o destino felizmente que voltássemos a viver no mesmo espaço físico, uma vez que meus pais haviam construído um condomínio familiar, acolhendo agora os filhos, os cônjuges e netos. Pois bem, juntos novamente, só não contávamos que havíamos sido assaltados pela globalização e que os tempos eram outros, e não por que crescemos ou constituímos família, mas sim por que agora cada um em frente ao seu laptop, com sua Internet a cabo, já não se reunia mais na sala de estar, mas sim em conferência pela Internet. Parece uma piada, mas há dentro deste condomínio 8 pessoas e 7 laptops ligados em rede, levando em consideração que um dos membros da família tem apenas 1 ano e meio. E eu que pensei que com uma janela para o mundo diante de mim, solidão seria algo impossível. Hoje me pego aqui, sozinha, frente a um mundo distante que parece próximo e diante da família próxima que hoje está tão distante.

Sobre o tempo, esse então é um dos vilões da era globalizada. Produto escasso e de extremo valor, será o ouro ou o diamante do século XIX? O fato é que a globalização nos trouxe uma enxurrada de informação da qual não tínhamos acesso ou mesmo nem conhecíamos. De repente passamos a ter tantas fontes de pesquisa dentro de um mesmo universo virtual, a nossa boa Internet, que a mente até parece não conseguir dar conta, não concatenar mais as idéias, ela retarda, rateia e nos torna letárgicos. Nossos dias acresceram atividades antes inexistentes, como checar a caixa postal a cada meia hora; checar o Orkut; estabelecer conversas, por via mensagem instantânea, com pessoas de todo o mundo; ler inúmeros jornais; baixar arquivos; pesquisar; organizar fotos digitais; sites de relacionamento; namoros virtuais; amigos virtuais, sexo virtual; jogos; compras; o mundo dentro do mundo, roubando tempo das tarefas reais, da convivência, da interação entre as pessoas. Depois de fazer todas as atividades no seu segundo mundo, a Internet, você dorme, come, faz as demais atividades fisiológicas e ... será que sobra tempo para viver?

O consumo em tempos globalizados cresceu à medida em que nossos horizontes se expandiram e enxergamos o outro lado do nosso planeta. O mundo saiu dos atlas, dos mapas e das enciclopédias. Ficou tão perto que agora estava ao alcance de nossas mãos. Aquele artigo indispensável para a sobrevivência, algo que nenhum ser humano do século XXI devia se furtar ao direito de possuir - quero dizer - a incrível, indispensável, sem a qual não poderá mais passar seus dias: mala Louis Vuitton; a câmera digital ultra plus de 300 megapixels; o suplemento alimentar da eterna juventude; o laptop de mil gigabytes de HD; o celular que além de TV, Internet, MP4, ainda se transforma num carro a lá gato Felix, e assim por diante estava ali, diante de nós, com apelos inesgotáveis de compre-me, mudarei sua vida. Bom, e se você não tem um desses artigos, quem é você? Eu sou honesta, inteligente, gentil, educada, mas não tenho nenhum dos itens acima mencionados, então alguém te pergunta: você somente é, mas não tem? Então você não é nada! Será que estou exagerando? Talvez, mas não é difícil perceber que “ter” e “ser” perderam e agregaram valores antes desconhecidos.
O consumo voraz passou dos limites aceitáveis e passamos a ver nas prateleiras mercancia tal como felicidade, juventude e sono. Se assustou? Em tempos globais não se pode mais perder tempo com a infelicidade, torne-se uma garota prozac, compre sua felicidade artificial nas melhores farmácias de seu bairro e siga em frente, não temos tempo para luto, dores, perdas. Se não dorme, compre seus Morpheus em cápsula, se está envelhecendo ...
Estamos consumindo ou sendo consumidos?

Queria poder dizer mais sobre aspectos maiores abordados no filme, mas busquei falar daquilo que está mais próximo do meu quotidiano, no entanto não perdi de vista que a Globalização vista do lado de cá tem uma face muito escura e cruel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário